Genes responsáveis por doenças que afetam humanos atualmente foram
herdados do cruzamento com neandertais, sugere um estudo divulgado na
publicação científica Nature.
Esses cruzamentos teriam transmitido adiante genes variantes envolvidos
no desenvolvimento da diabetes tipo 2, da doença de Crohn (inflamação no
sistema digestivo) e, curiosamente, do tabagismo.
Estudos do genoma revelam que a
No entanto, até então não estava claro que tipo de influência teve o DNA
neandertal e se havia quaisquer implicações para a saúde humana.
Entre 2% e 4% do código genético de não-africanos atuais veio de
neandertais.
Ao selecionar os genomas de 1.004 homens modernos, os cientistas
envolvidos no estudo, Sriram Sankararaman e seus colegas da Escola de Medicina
de Harvard (EUA), identificaram regiões que apresentavam versões neandertais de
diferentes genes.
Uma surpresa foi descobrir que uma variante do gene associado à
dificuldade em parar de fumar tem origem neandertal. Mas, obviamente, não há
qualquer sugestão de que nossos primos evolutivos consumissem tabaco em suas
cavernas.
Em vez disso, os pesquisadores argumentam, essa mutação genética pode
ter mais de uma função, e o efeito moderno desse gene no ato de fumar pode ser
um efeito entre vários.
Novas paragens
Os pesquisadores descobriram que o DNA neandertal não é distribuído
uniformemente no genoma humano, mas é encontrado geralmente em regiões que
afetam a pele e o cabelo.
Isso sugere que algumas variações de genes forneceram uma maneira rápida
de os humanos modernos se adaptaram aos novos ambientes mais frios que
encontraram ao migrarem para a Eurásia. Quando as populações se encontraram, os
neandertais já vinham se adaptando a essas condições há centenas de milhares de
anos.
A espécie de fortes caçadores se espalhava por uma área que ia da
Grã-Bretanha à Sibéria, mas foi extinta há cerca de 30 mil anos, enquanto o Homo sapiens se expandia para além de seu berço
africano.
A linhagem neandertal permaneceu nos humanos modernos e foi encontrada,
por exemplo, em regiões do genoma ligadas à regulação da pigmentação da pele.
"Encontramos provas de que os genes neandertais da pele fizeram com
que europeus e asiáticos do leste se adaptassem melhor à evolução", disse
Benjamin Vernot, da Universidade de Washington, coautor de outro estudo sobre o
tema publicado na revista Science.
Vernot e sua equipe analisaram o genoma de mais de 600 pessoas da Europa
e do leste da Ásia pelo computador, para encontrar variantes de genes que
continham marcas neandertais.
Genes responsáveis pelos filamentos de queratina - uma proteína fibrosa
que confere resistência a cabelos, pele e unhas - também foram enriquecidos com
o DNA neandertal. Isso pode ter ajudado os novos humanos a terem um isolamento
maior contra o frio, segundo os cientistas.
"É tentador pensar que os neandertais já estavam adaptados ao
ambiente não-africano e deixaram este benefício genético aos humanos
(modernos)", disse o professor David Reich, coautor do estudo publicado na Nature.
Mas outros de seus genes variantes influenciaram algumas doenças
humanas, como a diabetes tipo 2, a depressão de longo prazo, o lúpus, a cirrose
biliar - doença autoimune do fígado - e a doença de Crohn. No caso desta
última, os neandertais passaram adiante diferentes marcados que aumentam ou diminuem
o risco da doença.
"Acho que o que
estamos vendo, de maneira mais ampla, são os restos mortais deste genoma
extinto, enquanto ele é lentamente expurgado da população humana."
Joshua Akey, pesquisador da Universidade de Washington
No entanto, Sriram Sankararaman afirmou que os cientistas ainda não
conhecem o suficiente da genética neandertal para afirmar se eles também
sofreram destas doenças, ou se as mutações em questão só afetaram o risco das
doenças quando transplantadas para o contexto genético do homem moderno.
Ele diz que mais pesquisas sobre o genoma da espécie podem oferecer mais
respostas à questão.
"Misturas aconteceram há relativamente pouco tempo em termos
evolutivos, então não esperávamos que o DNA neandertal tivesse desaparecido
completamente a esta altura", disse Joshua Akey, da Universidade de
Washington e coautor do estudo publicado na Science.
"Acho que o que estamos vendo, de maneira mais ampla, são os restos
mortais deste genoma extinto, enquanto ele é lentamente expurgado da população
humana."
Regiões desérticas
Os cientistas também descobriram que algumas regiões do nosso genoma são
desprovidas de DNA neandertal, sugerindo que alguns dos genes tinham um efeito
tão prejudicial nos filhos dos casais de humanos modernos e neandertais que
eles foram descartados rapidamente pela seleção natural.
"Vemos que há grandes regiões do genoma onde a maioria dos humanos
modernos têm pouca ou nenhuma linhagem neandertal", disse Sankararaman à
BBC.
"Esta redução na linhagem aconteceu provavelmente pela seleção
contra os genes que eram ruins ou deletérios para nós."
As regiões privadas dos genes neandertais englobam genes que se
expressam em exames específicos e também o cromossomo X, ligado ao sexo feminino.
Isso sugere que alguns híbridos de neandertais e humanos modernos tinham
fertilidade reduzida e, em alguns casos, eram estéreis.
"Isto nos diz que, quando neandertais e humanos modernos se
encontraram e se misturaram, eles estavam à beira da compatibilidade
biológica", afirmou o David Reich.
Para Joshua Akey, os resultados de sua equipe foram compatíveis com a
ideia de que houve múltiplas ondas de cruzamentos entre humanos modernos e
neandertais.
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