Na
passagem do século XVIII para o XIX, os Estados Unidos recém-independentes,
ainda formavam um pequeno país, que se estendia verticalmente entre o Maine e a
Flórida e horizontalmente entre a costa do Atlântico e o Mississipi.
O
primeiro momento do processo de independência
dos Estados Unidos, havia se iniciado efetivamente com a mobilização
das 13 colônias, frente o fortalecimento fiscal estabelecido pela metrópole com
o término da Guerra dos 7 Anos em 1763.
Após
o episódio do "Boston Tea Party", a Inglaterra recrudesceu ainda mais
sua relação com as colônias, através das Leis
Intoleráveis, o que provocou uma maior mobilização dos colonos através
da convocação do Primeiro e Segundo Congresso da Filadélfia. Esse último,
contando com a participação de Benjamim Franklin e Thomas Jefferson, elaborou e
proclamou a Declaração de Independência dos Estados Unidos (4 de julho de
1776), que por ter sido a primeira independência na América, exercerá forte
influência nos demais movimentos de emancipação política do continente, no
contexto da crise do Antigo Sistema Colonial.
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ANTECEDENTES: LEIS, PARTIDOS E PRINCÍPIOS
Antes
mesmo da independência os colonos americanos já cobiçavam as terras do Oeste,
impedidas de serem colonizadas pela Lei
do Quebec (parte
das Leis Intoleráveis, 1774), que proibia a ocupação de terras pelos colonos
entre os montes Apalaches e o Mississipi. Apesar de pressões como essa, a
expansão para o Oeste ganhou força após a independência, sendo alimentada
ideologicamente pelo "Destino
Manifesto", princípio
que defendia a ideia de que os colonos norte-americanos de origem calvinista
estariam na América por predestinação divina, com a missão civilizatória de
ocupar os territórios situados entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
A Lei Noroeste de 1787 já visava consolidar o futuro
expansionismo, ao estabelecer que as terras ocupadas que atingissem 60 mil
habitantes formariam um novo território que seria incorporado à União como
Estado. Nesse mesmo ano foi sancionada a constituição federal, até hoje em
vigor que formalizou a política da nova nação através de uma República
Presidencialista Federalista.
O
primeiro presidente eleito após a carta de 1787 foi George Washington
(1789-97), que enfrentou as primeiras dificuldades na política interna, em
razão da interpretação dada à constituição.
Os grupos políticos iam se definindo em organizações partidárias, originando a formação dos partidos Federalista e Republicano Democrático. O primeiro, liderado por Alexander Hamilton no governo de John Adams (1797-1801) apoiava-se mais nos interesses dos grandes comerciantes do norte, enquanto que o segundo, que chegou ao poder com Thomas Jefferson (1801-09), estava mais ligado aos pequenos proprietários rurais e aos cidadãos dos Estados menores. O Partido Federalista defendia um poder central mais forte, enquanto que o Partido Republicano Democrático era favorável a uma maior autonomia para os Estados.
Os grupos políticos iam se definindo em organizações partidárias, originando a formação dos partidos Federalista e Republicano Democrático. O primeiro, liderado por Alexander Hamilton no governo de John Adams (1797-1801) apoiava-se mais nos interesses dos grandes comerciantes do norte, enquanto que o segundo, que chegou ao poder com Thomas Jefferson (1801-09), estava mais ligado aos pequenos proprietários rurais e aos cidadãos dos Estados menores. O Partido Federalista defendia um poder central mais forte, enquanto que o Partido Republicano Democrático era favorável a uma maior autonomia para os Estados.
Ao
eleger os dois presidentes seguintes - James Madison (1809-17) e James Monroe
(1817-25) -- o Partido Republicano Democrático dava um novo impulso ao
expansionismo com a conhecida Doutrina
Monroe ("América
para os americanos"), que defendia as independências na América Latina,
frente ao caráter recolonizador europeu do Congresso de Viena. Contudo,
conforme os interesses territoriais dos Estados Unidos foram ampliando-se, a
Doutrina Monroe seria mais bem definida pela frase "América para os
norte-americanos", caracterizando objetivos já inseridos na esfera do
imperialismo.
Entre
1829 e 1837 o governo de Andrew Jackson iniciou uma nova orientação
político-partidártia, representada pelo Partido Democrático, que estava ligado aos interesses dos
latifundiários do Oeste e do operariado do norte. Conhecida na história como "era Jackson", essa fase, foi marcada por
perseguições e expurgos de elementos que pertenciam a governos anteriores,
processo que ficou conhecido como "sistema de despojos" (Spoil
Sistem).
Com
um crescimento demográfico fulminante -- 4 milhões de habitantes em 1801, para
32 milhões em 1860 -- associado às constantes correntes de imigrantes, à
construção de uma vasta rede ferroviária à descoberta de ouro na Califórnia em
1848, a expansão em direção ao Oeste tornava-se cada vez mais inevitável.
A EXPANSÃO
O
expansionismo pode ser dividido em três frentes: negociação, Guerra do México e
anexação de terras indígenas. A ação diplomática dos Estados Unidos foi marcada
por um grande êxito já no início do século XIX, quando Napoleão Bonaparte em
1803 debilitado pelas guerras na Europa, vendeu a Lousiana (um imenso território
onde foram formados 13 novos Estados) por 15 milhões de dólares. Em seguida
(1819), a Espanha vendia a Flórida por apenas 5 milhões de dólares. Destaca-se
ainda a incorporação do Oregon, cedido pela Inglaterra em 1846 e do Alasca,
comprado da Rússia por 7 milhões de dólares em 1867, dois anos após o término
da Guerra de Secessão.
Em
1821 os norte-americanos passaram a colonizar parte do México com aval do
próprio governo mexicano, que em troca, exigiu adoção do catolicismo nas áreas
ocupadas. As dificuldades para consolidação de um Estado Nacional no México,
marcadas por constantes conflitos internos e ditaduras, acabaram criando
condições mais favoráveis ainda para a expansão dos Estados Unidos. Foi nessa
conjuntura, que em 1845, colonos norte-americanos proclamaram a independência
do Texas em relação ao México, incorporando-o aos Estados Unidos. Iniciava-se a Guerra do México(1845-48),
na qual a ex-colônia espanhola perdia definitivamente para os Estados Unidos as
regiões do Texas, além das do Novo México, Califórnia, Utah, Arizona, Nevada e
parte do Colorado. Em apenas três anos cerca de metade do México incorporava-se
aos Estados Unidos.
Destaca-se
ainda, a anexação de terras indígenas, através de um verdadeiro genocídio
físico e cultural dos nativos, o que ficava evidenciado na visão que alguns
colonos difundiam durante o expansionismo, de que "o único índio bom é um
índio morto", afirmação essa, atribuída ao general Armstrong Custer,
considerado um dos maiores matadores de índios nesse contexto.
A
configuração geográfica atual dos Estados Unidos seria concluída apenas em
1912, com a incorporação do Arizona.
CONSEQUÊNCIAS DA EXPANSÃO
Durante
o movimento expansionista dos Estados Unidos, o avanço econômico era notado no
país de forma bem diferente. Enquanto o norte assistia o crescimento do
comércio e principalmente de uma indústria cada vez mais sólida, o sul
permanecia agrícola, e as novas terras do oeste eram marcadas pela pecuária e
mineração. Ao longo da primeira metade do século XIX essas divergências entre o
norte (industrial e abolicionista) e o sul (rural e escravista), serão
agravadas, já que ambos tentarão impor seus respectivos modelos
sócio-econômicas sobre os novos Estados incorporados.
Uma
poderosa burguesia industrial e comercial, juntamente com um crescente
operariado fabril marcava o desenvolvimento da sociedade nortista,
antagonizando-a com a sulista, que permanecia estagnada e dominada por uma
aristocracia rural escravista vinculada ao latifúndio agro-exportador. Nas
novas terras do Centro-Oeste nascia uma sociedade organizada a partir dos
pioneiros com base na agricultura e na pecuária.
Os Estados Unidos formavam um único país, mas esse país pensava, trabalhava e vivia diferente, abrigando na realidade duas nações: o Norte-Nordeste de um lado e o Sul-Sudeste de outro.
Os Estados Unidos formavam um único país, mas esse país pensava, trabalhava e vivia diferente, abrigando na realidade duas nações: o Norte-Nordeste de um lado e o Sul-Sudeste de outro.
A manutenção da escravidão no sul e o aumento da rivalidade social e econômica durante a conquista do Oeste, associado a outros elementos também conflitantes, como a questão das tarifas alfandegárias e o crescimento do novo Partido Republicano, criam condições historicamente favoráveis para aquela que é considerada a maior guerra civil na história do século XIX: a Guerra de Secessão.
A
Guerra de Secessão
INTRODUÇÃO:
A INDEPENDÊNCIA
A
criação de uma República Presidencialista e Federalista,
pela constituição norte-americana de 1787, concedia autonomia para cada Estado
decidir por seu destino em vários aspectos, inclusive no tocante à mão-de-obra.
Nesse sentido, nem a independência dos Estados Unidos e nem a Constituição,
irão alterar a condição de vida da população negra nos Estados sulistas, que
permanece majoritariamente escrava.
Essa
estagnação do sul (atual sudeste), representada por uma economia
agro-exportadora com base no latifúndio escravista, contrastava-se cada vez
mais com o desenvolvimento do norte (atual nordeste), industrial e
abolicionista, tornando-se num futuro próximo, um entrave para o
desenvolvimento capitalista dos Estados Unidos.
ANTECEDENTES
DA GUERRA
O
intenso crescimento territorial dos Estados Unidos na primeira metade do século
XIX, acompanhado de um rápido aumento da população, com muitos imigrantes
europeus atraídos pela facilidade de adquirir terras, tornava ainda mais
flagrante, o contraste entre o desenvolvimento do norte e o atraso do sul.
No
norte, o capital acumulado durante o período colonial, criou condições
favoráveis para o desenvolvimento industrial cuja mão-de-obra e mercado,
estavam no trabalho assalariado. A abundância de energia hidráulica, as
riquezas minerais e a facilidade dos transportes contribuíram muito para o
progresso da região, que defendia uma política econômica protecionista. Já o
sul, de clima seco e quente permaneceu atrasado com uma economia
agro-exportadora de algodão e de tabaco, baseada no latifúndio escravista.
Industrialmente dependente, o sul era franco defensor do livre-cambismo,
caracterizando mais um contraponto com a realidade do norte.
O Acordo de Mississipi em 1820 proibia a escravidão acima do
paralelo 36o40'. Em conseqüência, o presidente Monroe, que assinara o tratado,
foi homenageado com a denominação de "Monróvia", para capital do
Estado da Libéria, fundado na África em 1847, para receber os escravos
libertados que quisessem voltar à sua terra. Em 1850 foi firmado o Compromisso Clay, que
concedia liberdade para cada Estado da federação decidir quanto ao tipo de
mão-de-obra.
Em
1852, Harriet Beecher Stowe publicou a romance abolicionista A Cabana do pai Tomás, que
vendeu 300 mil cópias só no ano de sua edição, sensibilizando toda uma geração
na luta pelo abolicionismo. Dois anos depois surgia o Partido Republicano, que
abraçou a causa do abolicionismo.
Em
1859, um levante de escravos foi reprimido na Virgínia e seu líder John Brow
foi enforcado, transformando-se em mártir do movimento abolicionista. No ano
seguinte, o ex-lenhador que chegou a advogado, Abraham Lincoln, elegeu-se pelo
novo Partido Republicano.
O Partido Democrata, apesar de mais poderoso, encontrava-se dividido entre
norte e sul, o que facilitou a vitória de Lincoln, um abolicionista bem
moderado que estava mais preocupado com a manutenção da unidade do país. Em
campanha Lincoln teria afirmado que "Se para defender a União eu precisar
abolir a escravidão, ela será abolida, mas se para defender a União eu precisar
manter a escravidão, ela será mantida". Apesar da questão do escravismo
ser apenas secundária para Lincoln, o mesmo era visto pelos latifundiários
escravistas do sul como um verdadeiro revolucionário.
Sentindo-se
ameaçados pelo abolicionismo, em 20 de dezembro de 1860 iniciava-se na Carolina
do Sul um movimento separatista, que seguido por outros seis Estados, reuniu-se
no Congresso de Montgomery no Alabama, decidindo pela criação dos "Estados Confederados da
América". A secessão estava formalizada com um novo país nascendo
no sul. Os estados do norte e do Oeste reagirão dizendo que o sul não tinha o
direito de separar-se e formar um outro país. Iniciava-se assim em 1861 a maior
guerra civil do século XIX, a Guerra de Secessão, também conhecida como
"Guerra Civil dos Estados Unidos" ou ainda como "Segunda
Revolução Norte-Americana", que se estendeu até 1865 deixando um saldo de
600 mil mortos.
A
GUERRA
Enquanto
o sul possuía apenas 1/3 dos 31 milhões de habitantes do país, dos quais mais
de três milhões eram escravos, e contava apenas com uma fábrica de armamentos
pesados, o norte já contava com pelo menos três fábricas de armas bem mais
modernas, um sólido parque industrial, uma vasta rede ferroviária e uma
poderosa esquadra. Mesmo com esse contraste totalmente desfavorável, foi o sul
que lançou a ofensiva, criando uma nova capital - Richmond - e elegendo para o
governo Jefferson Davis, que a 12 de abril de 1861 atacou o forte de Sunter.
Se
inicialmente o conflito mostrava algumas vitórias do Sul, que instituiu o
serviço militar obrigatório e convocou toda população para a guerra, com o
prolongamento do conflito, o norte ia consolidando sua vitória.
Para
fortalecer o norte, Lincoln extinguiu a escravidão nos Estados rebeldes em 1862
e prosseguiu incentivando o expansionismo, através da promulgação do Homestead Act, que
fornecia gratuitamente 160 acres a todos aqueles que cultivassem a terra
durante cinco anos. No mar o norte também demonstrava toda sua supremacia com
os couraçados, modernas embarcações que surgiram nessa guerra e foram
responsáveis pelo decisivo bloqueio naval imposto sobre o sul.
A
abolição efetiva da escravidão só ocorreu em 31 de janeiro de 1865. Após três
meses, o general sulista Robert Lee oficializava o pedido de rendição ao
general nortista Ulisses Grant. Alguns dias depois o presidente Abrahan Lincoln
era assassinado pelo fanático ator sulista John Wilkes Booth.
A
Guerra de Secessão é considerada a primeira guerra moderna da história, fazendo
surgir os fuzis de repetição e as trincheiras, que irão marcar de forma mais
acentuada, a Primeira Guerra Mundial entre 1914 e 1918. As novas técnicas
tornam obsoletos o sabre e o mosquete, fazendo da a luta corpo a corpo uma
forma de combate cada vez mais inútil.
DESDOBRAMENTOS
DO CONFLITO
Com
um saldo de 600 mil mortos e o sul devastado, a guerra radicalizou a segregação
racial surgindo associações racistas como Ku-Klux-Klan, fundada por brancos
racistas em Nashville no ano de 1867, com o objetivo de impedir a integração
dos negros como homens livres com direitos adquiridos e garantidos por lei após
a abolição da escravidão. O traço característico de seus membros era o uso de
capuzes cônicos e longos mantos brancos, destinados a impedir o reconhecimento
de quem os usava. A intimação contra os negros atingia também em menor escala
brancos que com eles se simpatizavam, além de judeus, católicos, hispânicos e
qualquer indivíduos contrário à segregação racial. A prática de terror dava-se
desde desfiles seguidos por paradas com manifestações racistas, até
linchamentos, espancamentos e assassinatos, passando ainda por incêndios de
imóveis e destruição de colheita.
Com
o término da guerra, a recuperação econômica dos Estados Unidos foi fulminante,
sendo facilitada pela abundância de recursos naturais e por uma extensa rede de
transporte fluvial e ferroviário, já estava presente nos Estados Unidos desde o
final do século XIX, quando surgiram gigantescos conglomerados, representando o
processo de concentração industrial mais conhecido como truste, que criou
verdadeiros oligopólios atuando nos mais variados setores da indústria de bens
duráveis de consumo, como aço, petróleo e borracha, destacando-se a Ford, a General Motors e a Chrysler,
como também a Firestone e a Goodyear.
O
expansionismo da economia norte-americana pelo mundo, tornava-se cada vez mais
inevitável sob a ótica da nova etapa que caracterizava o capitalismo no final
de século XIX: o imperialismo, que nos Estados Unidos foi evidenciado pela política do Big Stick - "Fale macio, carregue um grande
porrete e irá longe" - adotada pelo presidente Theodore Roosevelt em 1901.
Na América Central o intervencionismo norte-americano evidenciava-se com
construção do canal do Panamá, visando a ligação do Atlântico com o Pacífico, e
com uma emenda na constituição de Cuba (emenda Platt), que assegurou aos
Estados Unidos o direito de intervir na recém independente nação caribenha.
Destacam-se posteriormente outras intervenções, como na República Dominicana
(1905), na Nicarágua (1909), no México (1914), no Haiti (1915), além da compra
das Ilhas Virgens Ocidentais à Dinamarca em 1916.
Considerada
a maior guerra civil do século XIX, a Guerra de Secessão foi vital para o
desenvolvimento capitalista dos Estados Unidos, pois somente com o seu término
criou-se no país um mercado unificado, baseado no modelo industrial nortista,
representando assim, o primeiro grande passo para o avanço capitalista, que
levará os Estados Unidos à condição de principal potência hegemônica do mundo
no século XX.
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